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Psicanalista Christian Dunker explica delírios de Paulo Guedes

  • IMPRENSA
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  • FEV 2020
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  • Noticias 274

 

O psicanalista Christian Dunker explica os delírios e preconceitos de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro, em entrevista a Leonardo Sakamoto, colunista do UOL. Durante o papo, Dunker, que além de psicanalista é professor titular do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Ele é um dos coordenadores do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP e ganhador do prêmio Jabuti pelo livro "Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica".

Após sua crítica às empregadas domésticas, Paulo Guedes foi comparado a Caco Antibes, personagem pitoresco de um programa de TV da década de 90, do século passado. Ao responder às reclamações do preço alto da moeda estadunidense, Guedes disse que o tempo do dólar baixo acabou. Mas foi além. "Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada."

Além disso, somam-se outras declarações discriminatórias proferidas por Guedes nos últimos meses: como chamar funcionários públicos de "parasitas", dizer que pobres são responsáveis pela destruição do meio ambiente, afirmar que pobre não sabe economizar e insinuar um AI-5 diante do risco de manifestações contra suas reformas.

Leia trechos da entrevista:

LS: Por que Paulo Guedes ataca pobres em suas palestras e declarações?

CD: Depois que expõe suas teses, ele precisa dizer algo para ‘ganhar’ o interlocutor e solta essas ideias. Com Lula, eram as metáforas de futebol, que faziam com que a ideia, que havia sido entendida cognitivamente, fosse compreendida relacionalmente. É o momento do ‘tá entendendo ou quer que explique melhor?’ É a irrupção do nível metafórico, uma vez que o pacto da comunicação requer, de quando em quando, um momento fático.

Aí se denuncia mais claramente com quem a pessoa fala, qual o destinatário, o público-alvo com o qual ele quer fechar o ‘contrato’. Ele diz coisas inapropriadas, mas elas são dirigidas para um determinado setor da elite econômica, um grupo que compreende da mesma maneira que ele a subnarrativa do lugar de ricos e pobres. Deixa claro, com isso, que precisam se aliar contra os pobres, que usam demais os serviços públicos, que andam demais de avião, que vão a lugares que não deviam ir.

LS: Isso vale para a questão dos funcionários públicos, que ele chamou de ‘parasitas’?

CD: É interessante notar que ele fala sobre ‘parasita’ no momento da entrega do Oscar, quando o filme sul-coreano Parasita, que era candidato e ganhou, estava na cabeça de todo mundo, filme que jogava com a ideia de usurpação do poder - da mesma forma que o documentário brasileiro Democracia em Vertigem. Parasita, filme sobre pobres e ricos, emerge como metáfora. Ele joga com um público que se identifica com a elite, aquele público que tem uma equação na cabeça, de que o Estado está rouba a gente. É o interlocutor neoliberal por excelência. Isso fica claro no caso das empregadas domésticas que viajam à Disney. Pois tem ‘parasita’ em nosso lugar.

LS: Uma metáfora de doença?

CD: Qual a origem do mal? A trabalhadora empregada doméstica, os funcionários públicos, os pobres. Guedes tenta mostrar ao interlocutor que esse é o problema. E a solução passaria por excluirmos e deixarmos de fora esses grupos, o que - óbvio - é segregativo e excludente. É importante ler a emergência dessas declarações de Paulo Guedes sempre olhando para o que Jair Bolsonaro disse um pouco antes. Pois o que o presidente fala no plano moral, Guedes replica no plano econômico. E aparece, aí, o segundo contrato que ele tem, não com o seu grupo social, mas com o seu próprio chefe.

LS: A quantidade de trabalhadoras empregadas domésticas com recursos para ir à Disney é microscópica. Mesmo assim, a categoria foi lembrada pelo ministro como exemplo. Por quê?

CD: Porque, para ele, a origem dos problemas do país é que tem gente fora do lugar. É metafórico. Imagine se todas elas começassem a fazer isso, o que iria ocorrer? Ele não está pensando como economista, pois, se isso acontecesse de verdade, seria uma alavanca para a economia. Teríamos uma categoria gastando mais dentro e fora do país, garantindo mais fluxo e mantendo a economia aquecida. Mas ele está satisfeito com a circulação reduzida. Acredita que a democracia e o progresso é coisa para poucos.

Se a gente pegar o que Guedes está diz e colocar na boca de um economista qualquer, isso seria satirizado e a pessoa considerada por todos como alguém anacrônico. Mas, nesse tipo de discurso voltado a esse público, essa narrativa funciona. Porque produz continuamente inimigos que não querem que o Brasil cresça. É parte de um discurso paranoico.

Então não é um lapso?

É uma emergência do inconsciente. No momento em que o discurso dele dá uma ‘fraquejada’ - para usar uma expressão de Bolsonaro - é que essas coisas aparecem, que ele as deixa entrar. Claro que isso tem que vir com enunciação. E, daí, aparece o desejo censurado, emergindo na estrutura de algo que, para ele, é uma piada. Para contar a piada e ela dar certo, tem que acertar a mensagem ao público-alvo e fazer uma remoção provisória da censura, uma suspensão rápida do recalcamento. Ele associa isso aos discursos do Bolsonaro, porque há um ganho de autenticidade.

O que ele diz é que ‘economia é economia, moral à parte’. E, portanto, vamos fazer o que for preciso para continuar a ganhar e faturar. Com isso, vai haver uma espécie de distinção entre o que acontece e o que vamos falar a respeito. A identificação que ele causa não é com o conteúdo, mas com a dissociação. É como Freud descreveu a moral dupla: os homens podem trair, as mulheres, não. Isso acaba sendo sempre a resposta do governo na área econômica, para que uma coisa não seja ligada à outra. Uma coisa é a corrupção dos outros, outra é a que a gente faz. Uma coisa é os outros levando vantagem, a outra é a vantagem que nós levamos. Nós e eles.

LS: Mas Bolsonaro foi eleito, ele não.

CD: Com o emprego que não cresce e seus projetos polêmicos no Congresso, Guedes tem que desviar a atenção para alguma coisa. Caso contrário, começam a aparecer suas anáguas.

Crédito da Foto: Pedro Ladeira/FolhaPress

 

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